quinta-feira, 14 de junho de 2007

Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) - Artista da Visita






Mulata
grafite s/ papel, 1927
Acervo Pinacoteca do Estado




  • Guignard nasceu em fevereiro de 1896, sendo o primeiro filho do casal Alberto José Guignard e de Leonor Augusta da Silva Veiga Guignard, moradores da cidade de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.

  • Guignard nasceu com um defeito facial conhecido por “lábio leporino” que consiste numa abertura total entre a boca e o nariz. O defeito, que hoje se resolveria sem grandes problemas, não teve solução naquela época, mesmo depois de sucessivas cirurgias de correção.

  • O menino Alberto tinha Guignard verdadeira fascinação pela figura de seu pai. Em Petrópolis, concluiu seus estudos primários e sua vida parecia prosseguir de maneira agradável até que em 1906 um acontecimento dramático veio abalar sua existência de criança: seu pai morre antes de completar 40 anos de idade.

  • A família, com o seguro de vida deixado pelo pai, deixa a vida até então feliz de Petrópolis e se muda para a cidade do Rio de Janeiro. Morando na Tijuca, continua seus estudos e vê sua mãe se casar com o barão Schilgen, um nobre alemão arruinado que será um péssimo padrasto, tratando-o com grosseria e sem a menor demonstração de afeto. Preguiçoso e freqüentador assíduo de corridas de cavalo, assim era o “barão de tal e tal”, apelido pelo qual Guignard chamava seu padrasto.

  • No mesmo ano de 1907, toda a família de Guignard se muda para a Europa. Alberto só retornaria ao Brasil adulto, em breve passagem aos 28 anos (no ano de 1924) e definitivamente aos 33 anos de idade (em 1929). Morando Na França, aquele que haveria de se tornar um dos maiores desenhistas brasileiros de todos os tempos recebeu o conceito “Medíocre” na matéria “Desenho de Imitação”.

  • Vendo os desenhos de seu filho, a mãe de Guignard deicde colocá-lo em uma escola de pintura. Ainda no ano de 1915 Guignard inicia seus estudos na Real Academia de Munique, onde nunca esqueceu o primeiro dia de aula com o professor Hermann Groeber. Se lembra: “Quando o professor Groeber me colocou na frente do cavalete, comecei a desenhar, mas a linha saía fora do papel. Um colega então me deu, pela primeira vez, o caminho da proporção. Às vezes eu me lembro daquele primeiro dia em que fiz o primeiro desenho na aula do velho Groeber. Resolvido o problema do desenho e seu espaço, qualquer coisa se abriu como uma porta e logo depois o desenho nasceu como uma flor estranha”. (FROTA: 1997, p. 17).

  • Ao voltar para o Brasil, Em 1929 Guignard retorna ao Brasil, indo viver na cidade do Rio de Janeiro. Ele está com 33 anos e pinta o quadro “Retrato de Glorinha Strobel”, com o qual ganha a medalha de bronze do Salão Nacional de Belas Artes daquele ano.

  • Sem um programa artístico preestabelecido, Guignard é levado pela sua grande curiosidade em relação ao cotidiano brasileiro a pintar momentos da vida das camadas pobres da população. Ele desenhou favelas, cenas familiares na praça, festas em família, noites de São João, etc. Famosos também ficaram os retratos que o artista fez de homens e mulheres da classe média e da elite, além das cenas retratando paisagens brasileiras.

  • De 1932 até aproximadamente 1938, Guignard esteve perdidamente apaixonado por uma jovem pianista de São Paulo, que ele conhecera no Rio de Janeiro e com quem desejava se casar, seu nome era Amalita Fontenelle. Durante esses anos o artista teria feito o extraordinário “Álbum de Amalita”, uma coletânea onde ele colou desenhos, cartões de Natal, Páscoa, Reveillon e Carnaval, além de corações bordados ou pintados, cartinhas de amor, pequenas gravuras, tudo dedicado a sua amada. Hoje, o “Álbum de Amalita” encontra-se no acervo do Museu Casa Guignard em perfeitas condições de conservação e documentação. O álbum contém mais de uma centena de cartões dedicados a Amalita.A partir de 1909, acompanhado pela mãe, Guignard viaja pela França, Suíça, Bélgica, Itália, Alemanha e Áustria.

  • O ano de 1944 talvez seja o ano de maiores e mais significativas mudanças para o pintor: a convite do prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek de Oliveira Guignard transfere-se para a capital de Minas, contratado para dirigir o curso livre de pintura e de desenho. O curso localizava-se inicialmente em uma sala do edifício da Escola de Arquitetura e contava com 80 alunos inscritos. Mais tarde a escola foi transferida para o Parque Municipal e passou a ser conhecida como “Escola do Parque”. Guignard permaneceu ligado à escola até a sua morte, em sua homenagem a escola passou a se chamar “Escola Guignard”.

  • Nesse mesmo ano de 1944, o artista inicia temporadas de trabalho em cidades históricas mineiras. A cartela de cores utilizada pelo pintor vai se modificando, vai esfriando. Sua pincelada se torna mais fluida, menos rígida. Guignard deixa de pintar cores propriamente ditas, ele prefere usar tons, e tons bem sutis. As paisagens passam a representar uma densa matéria vaporosa, a solução das cores com toques de roxo e verde-sujo produz um colorido totalmente inovador.

  • Em 1949 Guignard reencontra em Ouro Preto a poetisa Cecília Meireles, sua amiga desde os tempos em que vivera no Rio de Janeiro após retornar da Europa. A poetisa, naquela ocasião, dedica-lhe o poema “O que é que Ouro Preto tem?”. Em 21 de abril daquele ano o artista é condecorado pelo governo do Estado de Minas com a medalha de honra da Inconfidência Mineira em solenidade na cidade de Ouro Preto. A pedido de Juscelino Kubitschek o artista realiza sua única obra histórica “A execução de Tiradentes”. Em 25 de junho de 1962 Guignard falece em Belo Horizonte e tem seu corpo sepultado no dia seguinte no cemitério da igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, atendendo a seu desejo.

texto de Vinícius Duarte

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